"♫Cristo falou comigo no toque do berimbau ♪"

 

 

Grandes Personagens

NASCIMENTO GRANDE

 

José Antonio do Nascimento, mais conhecido como “Nascimento Grande”, foi um dos valentões mais terríveis de Recife, no fim do século 19.  Assim como o legendário BESOURO MANGANGÁ, era respeitado na Bahia; MANDUCA DA PRAIA no Rio de Janeiro e NASCIMENTO GRANDE em Pernambuco.  Era alto, forte, usava um chapéu e tinha uma bengala que pesava quinze quilos.  Uma “bengalada” e Nascimento Grande mandava o sujeito dormir mais cedo.

Conta a história que Nascimento Grande nunca perdeu uma briga.  Morreu aos 90 anos.  Não era de seu caráter provocar brigas, mas uma vez provocada,ninguém o segurava. Vários capoeiristas tentaram destronar Nascimento Grande para ficar com sua fama, mas, todas as tentativas foram em vão. Da mesma maneira que Besouro tinha poderes sobrenaturais e que era protegido por um “patuá”, conta-se que Nascimento Grande também tinha o “corpo fechado” e usava um amuleto no pescoço para se proteger dos inimigos e das forças negativas.  Ninguém pode garantir, mas, o que todos diziam é que até mesmo as balas não atravessavam seus corpos.

Nascimento Grande teve dois inimigos que queriam lhe matar de qualquer maneira;  eram eles: CORRE HOJE  e  ANTONIO PADROEIRO.  Uma vez, Corre Hoje foi ajudado por sete homens na tentativa de liquidar Nascimento Grande e no final, encontrou  a morte, atingido por uma bala perdida, destinada a Nascimento Grande.  Antonio Padroeiro também teve seu fim tentando assassiná-lo; foi desarmado e espancado até a morte.  Nascimento Grande tinha um lado parecido com Besouro, bastante característico nos capoeiristas; o de gostar de ridicularizar os inimigos.  Uma vez foi atacado por PAJÉU, malfeitor conhecido.  Ele lhe deu uma rasteira e o vestiu com roupas de mulheres, o que provocou deboches do publico.  Outra vez, em que ele estava cercado por dez soldados numa rua sem saída, ele subiu em um telhado baixo e saltou sobre eles, dando-lhes bengaladas.

De todas as brigas, a maior foi contra JOÃO SABE TUDO,um outro famoso valentão de Recife. Os dois evitavam se encontrar, pois, sabiam que com certeza haveria briga.  Certo dia encontraram-se perto do Largo da Paz; eles se cruzaram e a briga começou  na mesma hora. João Sabe Tudo com uma peixeira e Nascimento Grande com sua bengala.  A cidade inteira estava em volta deles para assistir ao espetáculo.  O tempo passava, mais a briga se tornava surpreendente. Nascimento Grande e João Sabe Tudo, avançavam e recuavam, descendo a rua Imperial no meio  aos golpes de bengala, rasteiras e muito mais.  Eles saíram na Matriz de S. José e entraram, se batendo, na igreja, acompanhados pela multidão. Nesse momento apareceu o vigário, os obrigando a parar em respeito à casa de DEUS; mandando  os dois apertarem as mãos. Contra vontade, os dois apertaram as mãos e nunca mais brigaram.

 

 

SAMUEL QUERIDO DE DEUS

 

Um dos capoeiristas mais falados pelos antigos tinha o nome de Samuel Querido de Deus. Era considerado imbatível nas rodas, temido por todos os capoeiristas. Seu nome não chegou tão famoso aos dias de hoje quanto os de Pastinha ou Bimba, já que esses tinham academias no centro, inovaram a capoeira e fizeram discípulos que divulgaram seus ensinamentos. Mas Querido de Deus também entrou para a história, impressionando o povo da capoeira e intelectuais e estudiosos da nossa arte daquela época (estamos falando das décadas de 30 e 40).

Para descrevê-lo, nada melhor do que chamar Jorge Amado. Ele conta no seu Bahia de Todos os Santos como era Samuel:
“Já começaram os fios de cabelo branco na carapinha de Samuel Querido de Deus. Sua cor é indefinida. Mulato, com certeza. Mas mulato claro ou mulato escuro, bronzeado pelo sangue indígena ou com traços de italiano no rosto anguloso? Quem sabe? Os ventos do mar nas pescarias deram ao rosto do Querido de Deus essa cor que não é igual a nenhuma cor conhecida, nova para todos os pintores. Ele parte com seu barco para os mares do sul do estado onde é farto o peixe.

Quantos anos terá? É impossível saber nesse cais da Bahia, pois de há muitos anos que o saveiro de Samuel atravessa o quebra-mar para voltar, dias depois, com peixe para a banca do mercado Modelo. Mas o velhos canoeiros poderão informar que mais de sessenta invernos já se passaram desde que Samuel nasceu. Pois sua cabeça já não tem fios brancos na carapinha que parece eternamente molhada de água do mar? Mais de sessenta anos. Com certeza. Porém ainda assim, não há melhor jogador de capoeira, pelas festas de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na primeira semana de dezembro, que o Querido de Deus.

Que venha Juvenal, jovem de vinte anos, que venha o mais ágil, o mais técnico, que venha qualquer um, e Samuel, o Querido de Deus, mostra que ainda é o rei da capoeira da Bahia de Todos os Santos. Os demais são seus discípulos e ainda olham espantados quando ele se atira no rabo-de-arraia, porque elegância assim nunca se viu..."

Também a antopóloga americana Ruth Landes, que fez um trabalho maravilhoso estudando o candomblé em Salvador no ano de 1938, assistiu acompanhada de Edison Carneiro a um jogo de capoeira de Samuel com Onça Preta e descreve o jogo em detalhes no seu livro "A cidade das mulheres". Lá, ela conta que ele era "alto, mulato, de meia-idade, musculoso e pescador de profissão".

Edison Carneiro considerava-o "o melhor capoeirista que já se viu". Antonio Lberac Pires nos mostra um artigo do Jornal "O Estado da Bahia" de 13 fevereiro de 1937, no qual está escrito que no Segundo Congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador, quem comandou a apresentação de capoeira foi Querido-de-Deus, "considerado pelos outros capoeiristas como o melhor entre eles". E também, é claro, ele é citado no essencial livro "Capoeira Angola", de Waldeloir Rêgo.

 

 

Manduca da Praia

 

Era pardo claro, alto, reforçado, usava barba grisalha. Sua figura inspirava temores para uns e confiança para outros. Vestia-se com decência, chapéu na cabeça, usava um relógio que era preso por uma corrente de ouro, casaco grosso e comprido que impressionava as pessoas com seu porte, usava como arma uma bengala de cana-da-índia e a ele deviam respeito.
 
Certa vez na festa da Penha brigou com um grupo de romeiros armados de pau, ao final da briga deixou alguns inutilizados e outros estendidos no chão, entre outras brigas e confusões. Ganhava bastante dinheiro, seu trabalho era uma banca de peixe que tinha no mercado, vivia com regalias e finais de semana saia para as noitadas.
 
Morador da Cidade Nova, era capoeira por conta e risco assim disse Nulo Moraes. Manduca não participava da capoeiragem local, não recebia influência nem visitava outras rodas, pode-se dizer que ele era um malandro nato. Manduca da Praia conquistou o título de valentão, subestimando touros bravos, que sobre os quais saltava quando era atacado.
 
Por volta de 1850, Manduca "iniciou sua carreira de rapaz destemido e valentão,  dotado de enorme força física e "destro como uma sombra", Manduca cursou a escola de horários integral da malandragem e da valentia das ruas do Rio de Janeiro na época de perigosos capoeiras como, Mamede, Aleixo Açougueiro, Pedro Cobra, Bemetevi e Quebra Coco. Desde cedo destacou-se no uso da navalha e do punhal; no manejo do petrópolis - um comprido porrete de madeira-de-lei, companheiro inseparavel dos valentões da época - na malícia da banda e da rasteira; e com soco, a cabeçada e o rabo de arraia tinha uma intimidade a toda prova. Tinha algo que o destacava e diferenciava de seus contemporâneos - facínoras, valentes e rufiões - fazendo que se tornasse uma lenda viva, e mais tadre um mito cantado e celebrado até os dias de hoje:uma inteligência fria, calculista e implacável; uma sede de poder, de status e de dinheiro; tudo isso aliado a uma visão de comerciante e de homens de negócios. Fez fama e dinheiro. Foi famoso temido e respeitado.
 
 
SINHOZINHO
 

Agenor Moreira Sampaio, mais conhecido como Sinhozinho de Ipanema, era paulista, nascido em Santos, em 1891, e tendo falecido em 1962. Dotado de extraordinário vigor físico, destacou-se em várias modalidades esportivas.  Embora tenha terminado seus dias em Ipanema, morou muitos anos em S. Cristóvão e em Copacabana.
   Aprendeu sua capoeira observando os bambas de sua época, convivendo com os boêmios, com os valentes e os malandros do Rio de então.

Tendo praticado outras formas de luta, como o box e a luta greco-romana, via a capoeira como luta, sem se dedicar a seus aspectos de música, folclore e atividade acrobática. Os capoeiras do Rio de Janeiro usavam sua arte para brigar, enfrentar seus adversários sem nenhum espírito esportivo, antes, frequentemente, em disputa de seus territórios. A navalha e a faca eram seus companheiros constantes, causando ferimentos e mortes ao final das contendas.  Provavelmente por isto, a capoeira é pobre em recursos para a luta agarrada e se completava com estas armas. 

Agenor Moreira Sampaio foi um conhecido instrutor de atividades atléticas e lutas que manteve seu centro de instrução em Ipanema durante cerca de duas décadas. 
     No Clube do Sinhozinho se praticava levantamento de pesos, ginástica em aparelhos, box, capoeira, etc..Existiam, então, muito poucas academias no Rio de Janeiro e a rapaziada de Ipanema tinha aí oportunidade de cuidar do físico e aprender diversas modalidades desportivas. 
 À noite, os atletas se reuniam nos bares próximos para o papo e as cervejas, daí muitos terem se especializado mais nos chopes do que nas atividades físicas.  Mas aqueles que se dedicavam aos treinamentos recebiam atenções especiais do mestre e muitos se tornaram atletas destacados, tendo  alguns se orientado para o magistério. Entre os que se exercitaram sob a orientação de Sinhôzinho podemos destacar: Paulo Azeredo, Paulo Amaral, Sílvio M. Padilha, André Jansen, Bruno e Rudolf Hermanny, Luiz Pereira de Aguiar (Cirandinha), Eloy Dutra, Carlos Alberto Petezzoni Salgado, Joaquim Gomes (Kim), Telmo Maia, Tom Jobim, Carlos Madeira, Darke de Mattos, Comandante Max, Paulo Lefevre, Paulo Paiva, Bube Assinger, Wanderley Fernandes (Paraquedas), José Alves (Pernambuco), Roberto Gomes, Bob Onça, Carlos Pimentel, Lucas e Haroldo Cunha, Manoel Simões Lopes, Flávio Maranhão, Carlos Alberto Copacabana, e numerosos outros.  Foram gerações sucessivas, daí a dificuldade de citar todos.

  A Capoeira de Sinhozinho se aproximava mais da Regional do que da Angola.  Selecionados os golpes que lhe pareciam mais eficazes, Sinhozinho impunha a seus alunos um rígido treinamento repetitivo, fazendo-os aplicar os golpes em sacos e bolas, até que alcançassem precisão e eficiência, além de usar artifícios engenhosos para desenvolver suas habilidades. Sem canto ou ritmo marcado,  sua capoeira revela, apenas, a face de luta desta atividade.  Sacrifica a beleza do som e da imagem na busca de objetividade marcial.

POLÊMICA

Muitos apaixonados pela  bela  capoeira  da  Terra do Bonfim  têm  dificuldade  em aceitar  a  Capoeira de Sinhozinho  como  sendo  ¨capoeira¨, devido  á  falta  de  música  e  de  ritmo  marcado  por  atabaque,  pandeiro  e ,  principalmente,  berimbáu.

A ginga, que é a alma da capoeira  artística baiana,  comanda  o  jogo  de  capoeira,  mas ,  num  combate real,  tem que  ser  adaptada  a esta situação.,  a fim de evitar a exaustão  que apressará a derrota.  O mesmo pode ser citado em relação aos lances acrobáticos que enchem os olhos mas têm pouca eficácia para dominar os adversários, além de tornarem seus executores mais vulneráveis.

Qualquer capoeira  que se proponha  a  participar  de  uma  luta  de  verdade
deve fazer uma  crítica  de  seus  recursos  e  selecioná-los  à  luz  de  sua  eficiência.  Logo  perceberá que  seu  repertório  ficará  mais reduzido  e  que  terá  que economizar em sua movimentação.  Salvo se seu adversário lhe for muito inferior,  quando poderá enfeitar  as jogadas.

A  capoeira de Sinhozinho era baseada na capoeira  das antigas maltas que tanto pertubaram as autoridades do  Rio de Janeiro durante longos anos e teve pouca influência das  modalidades praticadas ao som do berimbáus .

 

 

CURIOSIDADES!
QUEM FOI 
DONA MARIA DO CAMBOATÁ?
obs: é apenas uma possibilidade, não há nada de concreto na narrativa do artigo.

Por volta do século XVIII e início do século XIX uma mulher fora do seu tempo, destemida, ousava escandalizar a "sociedade" local ao conviver de perto e de dentro com os povos negros e seus rituais. Era afeita a dançar o Lundu com os escravos. Seu nome: Maria Quitéria. Nascida em 27 de julho de 1792, em cachoeira, na Bahia. Mas como tudo que envolve história, a vida desta mulher está cheia de controversas. Inclusive quanto ao local exato do seu nascimento.

“Maria Quitéria não frequentou a escola. Dominava a montaria, caçava e manejava armas de fogo. Deflagradas as lutas de apoio à independência em 1822, o Conselho Interino do Governo da Bahia, defendia o movimento e procurava voluntários para suas tropas. Maria Quitéria, interessada em se alistar, pediu permissão ao seu pai, mas seu pedido foi negado. Com o apoio de sua irmã Tereza Maria e seu cunhado José Cordeiro de Medeiros, Quitéria cortou o cabelo, vestiu-se de homem e se alistou com o nome de Medeiros, no Batalhão dos Voluntários do Príncipe, chamado de Batalhão dos Periquitos, por causa dos punhos e da gola verde em seu uniforme.
Depois de duas semanas foi descoberta pelo pai, mas o major José Antônio da Silva Castro não permitiu que ela fosse desligada, pois era reconhecida pela disciplina militar e pela facilidade de manejar armas.

Maria Quitéria seguiu com o Batalhão para vários combates. Participou da defesa da Ilha da Maré, da Pituba, da Barra do Paraguaçu e Itapuã. No dia 2 de julho de 1823 quando o exército entrou na cidade de Salvador, Quitéria foi saudada e homenageada pela população. Tornou-se exemplo de bravura nos campos de batalha e foi promovida a cadete em 1823. Foi condecorada no Rio de Janeiro com a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul, em uma audiência especial onde recebeu a medalha das mãos do próprio imperador D. Pedro I.”

Na região onde Maria Quitéria cresceu e se formou como pessoa, batalhadora, fora do seu tempo, fugaz, bravia e determinada, ocorria em abundância um tipo de peixe, muito resistente e popular à época, citado, por exemplo, pelo viajante Jean de Léry em seus relatos (Viagem à Terra do Brasil, 1576): o Tamuatá,conhecido também como Camboatá.

Este peixe, parecido com um cascudo, tem uma enorme resistência física – apesar do seu tamanho diminuto e de sua morfologia não o destacar dos demais “bagres” a priori. Em seus relatos sobre os nossos peixes, diferentemente de sua “satisfação” dada ao público europeu de então, que estava ansioso por histórias fantasiosas, Jean de Léry informa que este peixe era muito conhecido pelos Tupinambás, sendo que sua carne era muito apreciada. Mas que este tinha o seu corpo “armado de escamas tão resistentes que não creio lhes faça mossa uma cutilada; nisso se assemelha a um tatu”.

O Camboatá é um peixe que ainda se encontra por aqui, em nossos rios. Ele tem muita resistência e pode inclusive “andar pelo mato” à procura de uma próxima poça d’água para a sua sobrevivência, ou mesmo se enterrar na lama e aguardar uma nova chuva que o fará eclodir da lama – assim como na mitologia grega a ave Fênix renasce das cinzas.

Abundante nos rios, lagoas e águas do recôncavo baiano, não é de se surpreender que os povos que ali habitavam tinham com ele, com o Camboatá, uma relação bem próxima, reconhecendo no mesmo tanto uma fonte de alimento saudável e delicioso, quanto um símbolo de resistência e bravura – mesmo sendo pequeno e de aparência frágil.

Neste ponto, rompo a barreia do materialismo histórico e adentro o mundo encantado das especulações. É certo que o homem da pré-modernidade, o ser que habitava as terras do Brasil de então, era regido por outra ordem ao se comunicar, ao produzir temas que seriam cantados e repassados aos outros nos folguedos e encontros fortuitos. E a ordenação destes dava-se a partir de construções coletivas, de modo que os contos e casos fossem reconhecidos diante da materialidade do entorno e da convivência entre os seus

Não seria absurdo então supor que a mesma população que ovacionou Maria Quitéria no longínquo 2 de julho de 1823, por sua bravura e resistência, diante da impossibilidade de lhe conceder medalhas e títulos, a saudasse popularmente com o título de Maria Forte e Resistente, Maria que chega e manda, que vai e faz, que não fica parada esperando a morte diante das dificuldades, que não se deixa render por ser aparentemente frágil, e que sendo assim, estes povos, buscariam uma analogia com algo no seu entorno que fizesse jus à conduta e ao símbolo que Maria representaria.

E daí para as danças dos folguedos em dias de festas, para ganhar as ruas e largos, para ser levada às rodas dos Capoeiras nas suas vadiações, bastou a criatividade em se criar os versos e cantá-los. O resto é fruto da corruptela que nos chega aos dias de hoje.

Dona Maria do Camboatá, ela chegou na freguesia e mandou.

Dona Maria do Camboatá, ela chega na venda e manda botá. Dona Maria do Camboatá, ela chega na roda e começa a brincar.
FONTE : Mestre Tonho Matéria

 

PEDRO MINEIRO

(um dos mais polêmicos praticantes da capoeiragem baiana)

Pedro Mineiro viveu na mesma época que besouro, sendo mineiro mais velho, Mineiro morreu em 1915 aos aos 27 anos de idade e besouro morreu em 1927 provavelmente com 29 anos. Quando Mineiro morreu o mestre bimba estava prestes a completar 15 anos de idade, e o mestre pastilha já estava no auge dos seus 26 anos.

*1887 ouro preto(MG)

+18 de janeiro de 1915 salvador(BA)

Natural da cidade de Ouro Preto(MG), pedro mineiro chegou a Bahia em em meados de 1907, no auge dos seus vinte e poucos anos de idade.

Assim o diario de noticias descreveu as suas caracteristicas fisicas no dia 18/01/1915, dia da sua morte.

Negro de olhos pequenos, lábios grossos e nariz largo. Seu cabelo era crespo e tinha as sobrancelhas largas, usava um bigode ralo e 
costeleta, sinal típico da capoeiragem. Tinha o corpo coberto por cicatrizes de ferimentos feitos por faca, navalha e canivete, mostrando que o corpo também conta história.

morador das ruas Julião do Caís dourado e Caldeiras na freguesia do Pilar, ele era carregador marítimo e atuava como "secretas da policia"(uma espécie de policial clandestino).

Seu nome estava sempre no topo da lista de colunas policias da imprensa baiana. Esse valentão sempre estava em alguma confusão,ora no Cais Dourado,ora no “27 do Tabuão” ora “botequim do Galinho”. Respondeu quatro processos, foi preso inúmeras vezes, é sempre estava ligado à alguma arruaça, ora com outros valentões, ora com prostitutas.

OBS:( o 27 do Tabuão e o Botequim do galinho eram dois bares frequentados pela boêmia, onde a prostituição costumava ser frequente).


Pedro Mineiro era um valentão que estava sempre se metendo em confusão, morreu n'uma cama de hospital, depois de três tiros de um marinheiro dentro da secretaria de segurança da Bahia. No final do ano de 1914, atracou em Salvador o torpedeiro Piauí, recém chegado do Rio de janeiro,os marinheiros que há muito tempo não via mulheres, logo procuraram os pontos de prostituição da Cidade de Salvador.

Obs:( torpedeiro piauí era o nome do terceiro navio da Armada Brasileira que recebeu esse nome em homenagem ao estado do Piauí).

a vasta quantidade de mulheres de vida facil que se encontrava na região fizeram os marujos se sentirem em casa, porem a bebedeira, o sexo explicito, o palavreado de baixo calão e algumas outras coisas proibidas pelos padrões sociais levaram o capitão de polícia Cyrillo a prenderem essas mulheres, acusando-as de serem provocadoras da desordem.

Essse fato revoltou os marinheiros que foram ate o Capitão Cirilo para exigirem a liberdade dessas mulheres, chegando a agredi-lo, formou-se uma grande confusão. Em seguida vieram então os capoeiras Pedro

mineiro e Sebastião de Sousa defesa do capitão Cirilo, atacando os marinheiros.

Obs:(isso leva a crer que Pedro mineiro assim como outros capoeiras antigos de fato faziam capangagem para a polícia, era muito comum naquele tempo as autoridades darem aos valentões o emprego de inspetores de quarteirão, uma espécie de autoridade que agiam como policiais, esses homens eram chamados de "secretas da polícia")

.

Dias depois Um desses marinheiros se envolveu com Maria José uma amante de Pedro de mineiro, que por sua vez era prostituta. No auge dos ciumes Pedro Mineiro acabou matando o tal marinheiro, outro marinheiro veio em auxílio do companheiro e foi jogado por Pedro mineiro do segundo andar do sobrado onde funcionava o estabelecendo gravemente ferido.

Obs:

Essa região do Saldanha era uma região de muitos bares onde as mulheres de vida fácil, faziam os seus programas, os marinheiros ficavam muitos dias nos mares sem ver mulheres, Quando tinham uma folga e atracavam em algum porto eles entravam cidade a dentro a procura de "garotas de programa", geralmente os barzinhos eram cheios dessas moças, elas ganhavam uma boa quantia dos proprietários para fazerem os homens gastarem nesses locais.

Segundo algumas fontes Pedro mineiro possivelmente foi um cafetão pois ele sempre esteve presente nas confusões ligadas à prostituição, ora espancando mulheres, ora defendendo-as de clientes violentos, sendo que as vezes se apegavam a essas mulheres e a acabava sempre em confusão por causa de ciumes.

Em 26 de dezembro de 1914 os os marinheiros jantavam no botequim do Galinho,quando apareceram o trio de capoeiraistas formado por Pedro Mineiro, Sebastião de Souza, e Antônio José Freire, começou entao uma grande confusão . houve troca de tirose muita correria, no conflito morreram dois marinheiros, José Domingos dos Santos, e Francisco Hollanda Wanderley. Quanto a Pedro mineiro, Sebastião de Sousa e Antônio José foram presos por guardas civis com a ajuda de alguns homens que se encontravam na rua e foram levados ao posto policial, sendo transferidos depois para a Secretaria de segurança

Em seus depoimentos os capoeiras se declararam “secretas da polícia”.

o julgamento dos capoeiristas ocorria de forma tranquila, porem um dos um dos marinheiros do Piauí, atirou contra Pedro Mineiro por três vezes, em pleno julgamento dentro da secretaria de segurança, um dos tiros pegou nas pernas, outro no ombro e o outro na região lombar.

Os capoeiristas Antônio José freire e Sebastião de Sousa aproveitaram-se da confusão para fugirem, Antônio José conseguiu fugir e nunca mais se ouviu falar dele,porém Sebastião de Sousa foi pego a traição por um marinheiro, que lhe acertou uma facada certeira perfurando os seus rins, vindo a morrer logo depois no hospital.

 

Sebastião e Pedro Mineiro, foram levados ao Hospital Santa Isabel onde chegaram ainda vida. Quanto aos marinheiros, esses foram levados ao torpedeiro Piauí e lá foram entregues ao Capitão da marinha Carlos Alves e esse tratou de punilo-los e castiga-los de acordo com as leis da marinha.

Pedro Mineiro não aguentando mais o sofrimento na cama do hospital pediu a sua companheira Graciliana Maria da Conceição que lhe arrumasse uma navalha, pois pretendia poupar seu sofrimento se suicidando. Atendendo o seu pedido a sua companheira trousse-lhe uma navalha,porem quando Pedro Mineiro a-levava até o pescoço, um dos guardas que fazia a segurança do hospital o impediu de suicidar-se. No dia dia seguinte o seu sofrimento foi poupado, Pedro veio a falecer vítima dos ferimentos a balas causados pelo marinheiro, a data era 18 de janeiro de 1915.

Tinha 27 anos de idade e foi enterrado no cemitério da Quinta dos Lázaros.

Topedera Piauí

Coraçado Bahia

Marinheiro absoluto

Chego pintando arrelia

Quando vê cobra assanhada

Não mete o pé na rodia

Se a cobra assanhada morde

que fosse a cobra eu mordia

matarô Pedro mineiro

Dentro da secretária camarado

iê...viva meu Deus


Essa música de domínio público fala justamente deste fato envolvendo a morte de Pedro Mineiro.

 

fontes:

OS “FIÉIS” DA NAVALHA:
PEDRO MINEIRO, CAPOEIRAS, MARINHEIROS
E POLICIAIS EM SALVADOR NA REPÚBLICA VELHA
Adriana Albert Dias

Texto:
Antônio Luiz dos Santos Campos(boa alma)

 
 
 
FRANCISCO JEACAIABA DE MONTEZUMA
 

Francisco Jê Acaiaba de Montezuma,primeiro e único visconde de Jequitinhonha, (Salvador23 de março de 1794 — Rio de Janeiro15 de fevereiro de 1870), foi um advogadojurista e político brasileiro.

  •  

    Seu nome de batismo era Francisco Gomes Brandão. Filho do comerciante português Manuel Gomes Brandão e da mestiça Narcisa Teresa de Jesus Barreto. Família mestiça, após a união de um português com uma brasileira, mas dotada de boa renda. Era desejo do pai fazê-lo padre, de forma que ingressou no seminário franciscano, em 1808.

A despeito desta vontade paterna, ruma em 1816 para Portugal, ingressando na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se forma em 1821.

Retornando para a Bahia, torna-se ardoroso defensor da sua independência. Ao lado do editor baiano Francisco Corte Real, depois Corte Imperial, funda o jornal "O Constitucional", que passa a ser o porta-voz dos interesses dos baianos face ao partido dito "português". Quando a situação na capital torna-se insustentável para os brasileiros, toma parte activa nas lutas pela Independência da Bahia - grande orador que era - junto ao Governo Provisório que então se formara na vila de Cachoeira.

Um novo país, um novo nome

Proclamada a Independência, abandona o nome de batismo, passando a chamar-se Francisco Gê Acayaba de Montezuma – incorporando assim ao nome todos os elementos que formam a nação brasileira, e uma homenagem ao imperador asteca Montezuma (, atualmente grafado com "J", designa os índios brasileiros do tronco linguístico não-tupi-guaraniAcayaba, atualmente grafado com "I", palavra de origem tupi[3]).

Como prêmio por sua participação nas lutas, o Imperador D. Pedro I concede-lhe o título de barão de Cachoeira, recusando este, porém aceitando ser agraciado comendador da Imperial Ordem do Cruzeiro.

Montezuma logo ingressa na política, e em 1823 elege-se deputado, indo para a corte. Ali, exerce com seu verbo inflamado e talento reconhecido na oratória, ferrenha oposição ao Ministro da Guerra. Preso, é exilado na França - onde permanece por oito anos.

De volta ao Brasil, é eleito para a Assembléia Geral Constituinte de 1831, onde ocupa lugar de destaque. Ali, torna-se o primeiro deputado da história brasileira a lutar contra o tráfico negreiro, sendo portanto um dos pioneiros do movimento abolicionista - idéia que defendia com ardor, mesmo que isto então fosse considerado ilegal.

Em 1837 é feito Ministro da Justiça e dos Estrangeiros (5º Gabinete - Regência Feijó), elegendo-se também deputado pela Bahia. Ocupou, ainda, o cargo de "ministro plenipotenciário" (diplomata) junto ao Império Britânico. Em 1850, foi nomeado Conselheiro de Estado.

Em 1851 Montezuma elege-se Senador por sua província natal.

Foi presidente do Banco do Brasil por um curto período de abril a agosto de 1866.[4]

Foi o fundador e primeiro Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, tendo ainda, em 1850, pugnado pela criação da Ordem dos Advogados do Brasil, sem sucesso, justamente na Câmara dos Deputados, onde tinha assento.

 

Brasão, viscondes de Jequitinhonha.

 

Se havia recusado o baronato, aceitou, entretanto, o título de Visconde com Grandeza (Grande do Império). Assim, fez-se nobre com o decretoimperial de 2 de dezembro de 1854.

Além da comenda já citada, Montezuma foi ainda comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e condecorado com a medalha da Guerra da Independência.

Montezuma foi um dos membros-fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Deixou uma relativamente farta obra publicada, versando sobre economia, história, política e, claro, direito.

Francisco Jê Acaiaba de Montezuma, teve lugar de destaque na história da Maçonaria do Brasil. Em 12 de março de 1829, então no exílio, recebe do Supremo Conselho dos Países Baixos, hoje Bélgica, uma carta de autorização para instalar um Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil. De volta ao Brasil, Montezuma instala o Supremo Conselho, usando a autorização do Supremo Conselho da Bélgica em 12 de novembro de 1832, recebendo o título de 1º Soberano Grande Comendador brasileiro.

Em meados de 1889, dada a Proclamação da República do Brasil recebeu a dignitária do Imperial Ordem do Cruzeiro e foi admitido na ordem maçônica dos Cavaleiros da Santa Cruz, chefiada por D. Pedro I.[5]

Em 7 de outubro de 1823, casa-se, no Rio de Janeiro, com Mariana Angélica de Toledo Marcondes, falecida em 1836, de quem deixou descendência.

Casa-se novamente, em segundas núpcias, com Francisca Maria de Jesus, a Viscondessa de Jequitinhonha, em 4 de junho de 1842, na chácara de João Ribeiro, bairro do Rio Comprido, Rio de Janeiro, viúva do político e grossista fluminense Marcolino Antônio Leite. Deste casamento não registra-se descendência.

Harmódio Marcondes de Montezuma, nascido aos 11 de maio de 1833, no Rio de Janeiro;

  • Leônidas Marcondes de Montezuma, nascido em cerca de 1825, que depois de estudar por sete anos, fazer seus exames e ser aprovado com grande louvor, enquanto aspirante da marinha inglesa, foi uma das vítimas de uma epidemia instaurada a bordo e ficou cego. Casado com Luísa Goddard, anglo-descendente, com geração na Inglaterra;

  • Mariana Angélica Marcondes de Montezuma, nascida aos 5 de abril de 1836, no Rio de Janeiro. Casada aos 5 de setembro de 1859, no Rio de Janeiro (Candelária), com o doutor Júlio Henrique de Melo e Alvim, irmão do barão de Iguatemi, filhos de Miguel de Sousa Melo Alvim, ministros de Estado do Imperador do Brasil, e de Maurícia Elisa de Meneses, com geração;

  • Artur Marcondes de Montezuma, aspirante da marinha inglesa, falecido durante naufrágio do brigue a vapor inglês Avenger,

  • Narciso Marcondes de Montezuma, nascido aos 16 de outubro de 1834 (?), no Rio de Janeiro,

  • Tomás Francisco de Montezuma, nascido aos 22 de maio de 1837 (?), no Rio de Janeiro, filho natural com Ângela Rosa da Conceição, gerado entre seu primeiro e seu segundo casamento.

Depoimentos sobre MontezumaPor volta de 1860, S. A. Sisson, em referência ao contexto familiar e pessoal de Montezuma, especialmente a propósito das tragédias que acometeram dois de seus filhos ao final dos anos 1850, logo seguidos de sua segunda viuvez, em 1860, escreveu na Galeria dos Brasileiros Ilustres, ressaltando ainda algumas características marcantes do Visconde de Jequitinhonha:

"O visconde de Jequitinhonha conta 66 anos de idade, e apesar das grandes provações por que tem passado, correndo todos os perigos das crises as mais extraordinárias do país, nas quais figurou principalmente; apesar dos profundos golpes que seu coração de pai e de esposo tem suportado, perdendo um filho no fundo do mar, vítima de horrível naufrágio, e recordando-se todos os dias da desgraça daquele para quem a luz não existe, apesar da luta de gigante que teve necessidade de sustentar contra seus adversários políticos, em que mais de uma vez foi acometido pelas costas e nas trevas; apesar de seus porfiados combates oratórios, ainda tem esta robustez de espírito e generosidade do coração, que fazem invejar os mais novéis. Dotado de memória pronta, de argumentação lógica sem asperidade, de palavra altiva e dominadora; preparado para todas as questões, pois sem quebra do merecimento alheio se pode dizer que é a mais vasta inteligência que orna o Senado brasileiro: razão clara, força de vontade capaz de conceber e de executar, e com um nome ilustre, porque está escrito nos livros das vitórias da liberdade brasileira; parece que a Providência, conservando-lhe a vida, depois de haver chamado aos destinos de além-túmulo a maior parte de seus companheiros da independência, o reserva para novas, se não mais gloriosas épocas."

Polêmico e contraditório, Montezuma foi figura central durante o segundo reinado. Dele consignou o memorialista Américo Jacobina Lacombe:

“misto de estadista e politiqueiro; de jurista e de chicanista; de cabotino e de homem de honra; de mestiço e de fidalgo; combatendo a aristocracia e pleiteando para seus filhos um lugar na nobreza; contradição viva, enfim, que deixou em seus contemporâneos uma impressão de versatilidade, de ceticismo, e de sarcasmo, curiosamente contrabalançados por uma vaidade surpreendente.”

 

 

JOSÉ MAURÍCIONUNES GARCIA

 

 José Maurício Nunes Garcia

José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) foi padre brasileiro. Compositor sacro, foi mestre de capela da antiga Catedral da Sé do Rio de janeiro. Nomeado, pelo imperador D. João VI, mestre da música sacra da Capela Real.

José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) nasceu no Rio de Janeiro, no dia 22 de setembro de 1767. Filho de um escravo alforriado e uma mestiça, ficou órfão de pai aos seis anos de idade. Ainda jovem demonstrou vocação pela música, estudando teoria musical com o mestre Salvador José. Tocava vários instrumentos e se apresentava em festas familiares.

Em 1792 ordenou-se padre, depois de superar os "problemas" da cor. Em 1798 foi nomeado mestre de capela da antiga Catedral da Sé do Rio de Janeiro, na época, o mais elevado posto de um músico brasileiro. Logo revelou sua inclinação para compor músicas sacras. Com a instalação da corte de D. João VI no Rio de Janeiro, José Maurício foi apresentado ao rei e este entusiasmado o nomeou mestre da Capela Real, tornando-se o músico mais importante do reino de Portugal.

Ao chegar ao Brasil o compositor português Marcos Portugal, logo entusiasmou-se com a obra do compositor brasileiro. Foi designado diretor do Teatro São João, onde representou várias óperas. Mas, não demorou muito a promover séria perseguição ao músico brasileiro, vendo nele um grande competidor. José Maurício recebeu de D. João VI, durante anos, uma pensão, que foi suspensa em 1822, após a Proclamação da Independência.

Padre José Maurício fundou um curso de música na rua das Marreca, que funcionou durante vinte e oito anos. Seu aluno mais ilustre foi D. Pedro I e Francisco Manuel da Silva, autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro.

José Maurício Nunes Garcia morreu no Rio de janeiro, no dia 18 de abril de 1830.

 

Antônio Francisco Lisboa

 

Aleijadinho (1730-1814) foi um escultor, entalhador, carpinteiro e arquiteto do Brasil colonial.

Ele é considerado o maior representante do barroco mineiro, sendo conhecido por suas esculturas em pedra-sabão, entalhes em madeira, altares e igrejas.

Biografia

Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho, nasceu na cidade mineira de Vila Rica, atual Ouro Preto. Há controvérsias sobre sua data de nascimento, mas a maioria dos pesquisadores dizem que ele nasceu em 29 de agosto de 1730.

Filho do português Manuel Francisco Lisboa, mestre de carpintaria, que chegou a Minas Gerais em 1728, e de uma escrava chamada Isabel.

Aleijadinho estudou as primeiras letras, latim e música com alguns padres de Vila Rica. Aprendeu a esculpir ainda criança, observando o trabalho de seu pai que esculpiu em madeira uma grande quantidade de imagens religiosas.

Suposto retrato de Aleijadinho por Euclásio Ventura
Suposto retrato de Aleijadinho por Euclásio Ventura

Na segunda metade do século XVIII, graças ao ouro, surgiram as ricas construções em pedra e alvenaria.

Foi nessa época, quando Minas Gerais liderava o movimento artístico da colônia, que Aleijadinho desenvolveu sua atividade de arquiteto e escultor.

Foi difícil obter o reconhecimento de seu talento, pois na época, não se perdoava a condição de mestiço. Muitos de seus trabalhos foram feitos para confrarias e irmandades de brancos.

Por conta de sua condição, não lhe foi permitido assinar nem sua obra nem os livros de registro de pagamentos.

 

Quando sua fama, apesar de tudo, chegou a outras cidades e sua obra se encontrava em pleno esplendor, a doença o atacou. Lepra ou sífilis, não se sabe ao certo, deformou seus pés e mãos.

Entretanto, mesmo doente, ele não abandonou sua arte. Assim, quando suas mãos se deformaram por completo, atou-as com uma correia de couro para segurar o cinzel, o martelo e a régua.

Aleijadinho faleceu no dia 18 de novembro de 1814 em sua cidade natal. Seu corpo foi sepultado na Matriz de Antônio Dias, junto ao altar da Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte.

Obras e características

A maior parte das obras de Aleijadinho tem como tema central a religiosidade. As imagens sacras que produziu se caracterizam pela cores, leveza, simplicidade e dinamismo.

Grande parte de sua obra encontra-se nas cidades mineiras de Ouro Preto (antiga Vila Rica), Tiradentes, São João del Rei, Mariana, Sabará e Congonhas do Campo.

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Algumas obras escultóricas que produziu estão no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonha do Campo. A planta do local imita o santuário de Bom Jesus de Braga, em Portugal.

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Nesse Santuário, merecem destaque as representações da "Via Sacra". As cenas da Paixão de Cristo são formadas por 66 figuras, todas de cedro, em tamanho natural. Podemos encontrar essas obras dispostas nas sete capelas da rampa do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos:

Jesus escarnecido pelos soldados romanos
Jesus escarnecido pelos soldados romanos, 1796-1799
Jesus carregando a cruz
Jesus carregando a cruz, 1796-1799
a crucificação de Jesus
A crucificação de Jesus, 1796-1799

Os Profetas

Além dessas obras, no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos encontramos algumas esculturas emblemáticas de Aleijadinho, as quais estão localizadas no adro do Santuário.

O conjunto conhecido como os "doze profetas" foi produzido entre os anos de 1794 a 1804. Aleijadinho representou Amós, Abdias, Jonas, Baruque, Isaías, Daniel, Jeremias, Oseias, Ezequiel, Joel, Habacuque e Naum.

Assim, o adro do Santuário, em forma de terraço, é ornado por 12 estátuas dos profetas um pouco maiores que o tamanho natural. As formas imitam os trajes da época dos profetas, segundo as gravuras bíblicas.

As estátuas dos profetas foram feitas de pedra-sabão, abundante na região do ouro. Esse material foi largamente utilizado por Aleijadinho também em umbrais e medalhões de frontispícios.

Estátuas profetas de Aleijadinho
Profetas de Aleijadinho

Igreja de São Francisco de Assis

A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, é considerada uma obra prima do barroco brasileiro. Sua construção foi iniciada em 1776 e concluída em 1794. Além de elementos do barroco, é notória a influência do estilo rococó.

Fachada da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto
Fachada da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, Minas Gerais

Aleijadinho traçou a planta, elaborou a talha e a escultura do frontispício. Fez dois púlpitos, nos quais esculpiu figuras de santos.

Produziu também a pia batismal, as imagens de três pessoas da Santíssima Trindade e os dois anjos que adornam o altar principal. A fachada é adornada por um medalhão onde se insere a imagem de São Francisco de Assis.

 

 

Chica da Silva

 

Chica da Silva (1732-1796) foi uma escrava brasileira alforriada que ficou famosa pelo poder que exerceu no arraial do Tijuco, hoje a cidade mineira de Diamantina. Manteve uma relação de concubinato com o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.

Francisca da Silva nasceu no Arraial do Tijuco, atual cidade de Diamantina, Minas Gerais, na época em que o Brasil tornou-se grande produtor de diamantes. Filha do português, capitão das ordenanças, Antônio Caetano de Sá e da africana Maria da Costa, foi escrava de um proprietário de lavras, o sargento-mor Manoel Pires Sardinha, com quem teve um filho chamado Simão Pires Sardinha, alforriado pelo pai, que o deixou bens em testamento.

Alforria e Luxo

Com 22 anos, Chica da Silva foi comprada pelo rico desembargador João Fernandes de Oliveira, contratador de diamantes, que chegou ao Arraial do Tijuco, em 1753. Depois de alforriada, passou a viver com o contratador, mesmo sem matrimônio oficial. Chica da Silva passou a ser chamada oficialmente Francisca da Silva de Oliveira. O casal teve 13 filhos e todos receberam o sobrenome do pai e boa educação.

Chica da Silva, mulata, frívola, prepotente, impôs-se de tal forma, que o rico português atendia a todos os seus caprichos. O maior deles, como não conhecia o mar, pediu ao marido para construir um açude, onde lançou um navio com velas, mastros, igual às grandes embarcações.

Chica da Silva vivia em uma magnífica casa, construída nas encostas da serra de São Francisco, onde promovia bailes e representações. Era dona de vários escravos que cuidavam das tarefas domésticas de sua casa. Só ia à Igreja ricamente vestida e coberta de joias, seguida por doze acompanhantes. Consta que muitas pessoas se curvavam à sua passagem e lhe beijavam as mãos.

Fim da União

João Fernandes de Oliveira foi acusado de contrabandear diamantes, chegou a ser preso e perdeu parte de seus bens. Mesmo assim, possuía uma das maiores fortunas do Império Português. A união do casal que durava 15 anos, foi interrompida em 1770, quando João Fernandes retornou a Portugal, depois da morte de seu pai a fim de resolver questões de herança familiar, levando com ele os quatro filhos que teve com Chica da Silva. Lá, adquiriram educação superior e alcançaram cargos importantes na administração do reino.

Chica da Silva ficou no Brasil com as filhas e a posse das propriedades do marido, o que lhe permitiu continuar vivendo no luxo. Suas filhas estudaram prendas domésticas e música. Mesmo sem viver com João Fernandes pelo resto de sua vida, Chica da Silva conseguiu distinção social e respeito na sociedade elitista de Minas Gerais, no século XVIII.

Chica da Silva convivia com a elite branca local. Em seu testamento, doou parte de seus bens às irmandades religiosas do Carmo e de São Francisco, que eram exclusivas de brancos, e às das Mercês, exclusivas dos mestiços e a do Rosário dos Pretos, que eram reservadas aos negros.

Chica da Silva faleceu em Serro Frio, Minas Gerais, no dia 15 de fevereiro de 1796. Foi sepultada na irmandade religiosa de São Francisco de Assis, exclusiva dos brancos.

 

 

Henrique Dias

 

 Há pouca documentação sobre Henrique Dias, um dos heróis negros da luta contra os holandeses. As informações só começam a aparecer, em 1633, quando ele se apresentou ao general Matias de Albuquerque “para servir com alguns de sua cor em tudo o que lhe determinasse”, tornando-se o capitão do grupo e recebendo a patente de governador dos crioulos, negros e mulatos do Brasil.

 

Sabe-se que nasceu em Pernambuco, mas não se conhece a data do seu nascimento. Também não se sabe se nasceu escravo ou liberto, nem quem foi sua mulher. Não teve filhos homens, mas quatro filhas, duas das quais se chamavam Guiomar e Benta.

 

Não há um retrato seu autêntico, conhecido. Os que aparecem nos compêndios e até em livros eruditos são pura fantasia.

 

Sua primeira ação militar foi a defesa do Engenho São Sebastião, quando contou  com a ajuda de vinte negros e de outros capitães, e onde recebeu o primeiro dos seus 24 ferimentos lutando contra os holandeses. Num desses ferimentos sua mão esquerda teve que ser amputada.

 

Travou combates com os holandeses em Pernambuco, Bahia, Alagoas e Rio Grande do Norte, não perdendo sequer uma batalha. Tomou parte, entre outras, nas batalhas das Tabocas, de Casa Forte, quando defendeu o engenho de Dona Anna Paes, de Cunhaú e dos Guararapes. 

 

Henrique Dias estabeleceu-se numa estância no contorno do Recife e da cidade Maurícia (atual bairro de Santo Antônio) que, segundo os documentos, era a mais próxima dos inimigos. Ficava tão perto dos holandeses que, às vezes, o duelo não era com bala e sim com palavras de desafio e injúria. Da sua estância realizou várias investidas importantes contra os batavos. O local foi atacado diversas vezes pelos flamengos, porém eram sempre rechaçados.

 

Com a rendição do Recife, em 1654, Henrique Dias, ao contrário de outros militares que combateram os holandeses, não recebeu as recompensas que lhe eram devidas, tendo que viajar a Portugal, em março de 1956, para requerer a remuneração atrasada dos seus serviços.

 

Foi-lhe concedida por Dom João IV, a comenda dos Moinhos de Soure, da Ordem de Cristo, que estava vaga por morte de Antônio Felipe Camarão, que já a possuía desde 1641.

 

Passou seus últimos anos em Pernambuco, morrendo em extrema pobreza no dia 7 ou 8 de junho de 1662, no Recife, sendo enterrado por conta do Governo, no Convento de Santo Antônio, em local desconhecido.

 

Ruth de Souza

 

 

(texto de 2006)

Ruth Pinto de Souza nasce no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1921. Até os 9 anos de idade vive com a família em uma fazenda em Porto do Marinho, pequena cidade do interior de Minas Gerais. Com a morte do pai, ela e a mãe voltam a morar no Rio de Janeiro, em uma vila de lavadeiras e jardineiras, no bairro de Copacabana. Interessa-se por teatro ainda menina, quando assiste a récitas no Municipal. Pela Revista Rio, toma conhecimento do grupo de atores liderados por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro. Une-se ao grupo e faz sua estreia em O imperador Jones, de Eugene O’Neill, em 8 de maio de 1945, no palco do Municipal.

Por indicação de Paschoal Carlos Magno, recebe bolsa de estudo da Fundação Rockefeller e passa um ano nos Estados Unidos: na Universidade Harvard, em Washington, e na Academia Nacional do Teatro Americano, em Nova York.

Em 1948, indicada pelo autor Jorge Amado, estreia no cinema em Terra violenta, adaptação do seu romance Terras do sem fim. Com direção do norte-americano Edmond Bernoudy, o filme tem ainda no elenco Anselmo Duarte, Maria Fernanda, Heloisa Helena e Ziembinski. A partir daí, sua carreira de atriz prossegue focada no cinema.

Participa de diversas produções das três empresas pioneiras: Atlântida, Maristela Filmes e Vera Cruz. Na Atlântida, roda Falta Alguém no Manicômio (1948) e Também Somos Irmãos (1959), ambos de José Carlos Burle, e A Sombra da Outra (1950), de Watson Macedo. Contratada para o elenco fixo da Vera Cruz, atua em Ângela (1951), Terra é Sempre Terra (1952) e Sinhá Moça(1953), todos dirigidos por Tom Payne, e Candinho(1954), de Abílio Pereira de Almeida, estrelado por Mazzaropi. Por seu desempenho em Sinhá Moça, torna-se a primeira atriz brasileira indicada para prêmio internacional: o Leão de Ouro, no Festival de Veneza de 1954, em que disputa com estrelas como Katherine Hepburn, Michele Morgan e Lili Palmer, para quem perde por dois pontos. Em 1958 filma Ravina, com Rubem Biáfora, um marco na cinematografia brasileira.

Em 1959 vive um momento especial no palco, quando protagoniza Oração para uma Negra, de William Faulkner, com Nydia Licia e Sérgio Cardoso, no Teatro Bela Vista, em São Paulo. Com Roberto Farias aparece em Assalto ao Trem Pagador, em 1962, ao lado de Eliézer Gomes, Luíza Maranhão e Reginaldo Farias.

Depois de atuar em radionovelas, trabalha nos teleteatros da Tupi e da Record. Em 1969 integra o elenco da TV Globo e nela se torna a primeira atriz negra a protagonizar uma novela: A Cabana do Pai Tomás, na qual divide o estrelato com Sérgio Cardoso. Há 30 anos participa intensamente da teledramaturgia da emissora.

Atravessando gerações, marca presença no cinema com cineastas mais jovens, como Walter Salles, em A Grande Arte (1991), Aluísio Abranches, em Um Copo de Cólera (1999), e Zito Araújo, em As Filhas do Vento (2004).

 

Grande Otelo

 

Quando o pai morreu esfaqueado e a mãe, uma cozinheira que trabalhava com o copo de cachaça ao lado do fogão, casou outra vez, ele aproveitou a visita de uma companhia de teatro mambembe a Uberlândia para escapulir. A diretora do grupo, Abigail Parecis, o adotou "de papel passado" e o levou para São Paulo;

- Em seu novo lar tinha a tarefa de levar a filha de dona Abigail às aulas de piano. Mas Otelo fugiu de novo e, após várias entradas e saídas do Juizado de Menores, foi adotado, mais uma vez, pela família de Antônio de Queiroz, político influente da época. Dona Eugênia, mulher de Queiroz, tinha ido ao Juizado atrás de uma garota que a ajudasse na cozinha. O administrador do albergue sugeriu que levasse o negrinho fujão que sabia declamar, dançar e fazer graça;

- Os Queiroz o colocaram no Colégio Sagrado Coração de Jesus, de padres salesianos, onde estudou até a terceira série ginasial;

- Nos anos 20 integrava a Companhia Negra de Revistas, cujo maestro era Pixinguinha;

- Em 1932 entrou para a Companhia Jardel Jércolis (pai do ator Jardel Filho e um dos pioneiros do teatro de revista), quando ganhou o apelido que o consagrou. Os amigos o chamavam Pequeno Otelo, por razões óbvias, mas ele preferiu o pseudônimo de The Great Othelo, em inglês mesmo, que já era moda na época. Depois traduziu para o português;

- Em "Fitzcarraldo" (1982), filmado na selva do Peru, quase enlouqueceu o ator Klaus Kinski, que tinha o ego do tamanho da Amazônia. Otelo precisava fazer uma cena em inglês mas resolveu falar em espanhol, idioma que Kinski desconhecia. Irado, Kinski retirou-se do set. Quando o filme estreou na Alemanha aquela foi a única cena aplaudida pelo público, contou depois o diretor Werner Herzog;

- Uma tragédia viria a abalar a vida de Otelo: sua mulher matou o filho do casal, de 6 anos de idade, e se suicidou. As filmagens de "Carnaval no Fogo" foi abalada. Otelo filmou a cena em que fazia o papel de Julieta e Oscarito o de Romeu, sem saber da nada. Abalado, afastou-se da fita e só assistiu a cena quase 30 anos depois;

- Em 1993 um ataque do coração fulminou o pequeno Grande Otelo, a caminho de Paris, para uma homenagem que receberia no Festival de Nantes.

Grande Otelopseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata ou Sebastião Bernardo da Costa (Uberlândia18 de outubro de 1915 — Paris26 de novembro de 1993) foi um atorcomediantecantorprodutor e compositor brasileiro. Grande artista de cassinos cariocas e do chamado teatro de revista, participou de diversos filmes brasileiros de sucesso, entre os quais as famosas comédias nas décadas de 1940 e 1950, que estrelou em parceria com o cômico Oscarito, e a versão cinematográfica de Macunaíma, realizada em 1969.

 

Dandara

 

Descrita como uma heroína, Dandara dominava técnicas da capoeira e lutou ao lado de homens e mulheres nas muitas batalhas consequentes a ataques a Palmares, estabelecido no século XVII na Serra da Barriga, situada na então Capitania de Pernambucoem região do atual estado de Alagoas, cujo acesso era dificultado pela geografia e também pela vegetação densa.

Não se sabe se Dandara nasceu no Brasil ou no continente africano, mas teria se juntado ainda menina ao grupo de negros que desafiaram o sistema colonial escravista por quase um século. Ela participava também da elaboração das estratégias de resistência do quilombo.

Além de lutar, participava de atividades cotidianas em Palmares, como a caça e a agricultura. No quilombo era praticada a policultura de alimentos como milhomandiocafeijãobatata-docecana-de-açúcar e banana.

Os ataques ao Palmares teriam se tornado frequentes a partir de 1630, com a invasão holandesa. Segundo a narrativa em torno de Dandara, ela teria tido importante papel no rompimento do marido com seu antecessor, Ganga-Zumba, primeiro grande chefe do Quilombo de Palmares e tio de Zumbi. Em 1678, Ganga-Zumba assinou um tratado de paz com o governo de Pernambuco. O documento previa que as autoridades libertassem palmarinos que haviam sido feitos prisioneiros em um dos confrontos. E também a liberdade dos nascidos em Palmares, além de permissão para realizar comércio. Em troca, a partir dali, os habitantes do quilombo deveriam entregar escravos fugitivos que ali buscassem abrigo. Dandara, ao lado de Zumbi, teria sido contrária ao pacto por entender que se tratava de um acordo que não previa o fim da escravidão. Ganga-Zumba acabou sendo morto por um dos palmarinos contrários à sua proposta.

Dandara ( — Capitania de Pernambuco6 de fevereiro de 1694) foi uma guerreira negra do período colonial do Brasil. Após ser presa, suicidou-se se jogando de uma pedreira ao abismo para não retornar à condição de escrava. Foi esposa de Zumbi dos Palmares e com ele teve três filhos. Sua figura é envolta em grande mistério, pois quase não existem dados sobre sua vida e/ou atos.

 

 

Cândido Fonseca Galvão

 

Cândido da Fonseca Galvão, mais conhecido por Obá II D’África e Dom Obá. Nasceu, possivelmente em 1845 em Lençóis, na Bahia. Filho de Benvindo da Fonseca Galvão, africano forro da nação iorubá. Foi um militar brasileiro, possuía a patente de alferes.

No Império, assim como na Colônia, o serviço militar não era obrigatório. Porém com a emergência da Guerra do Paraguai, o Brasil Império, a partir de 1865 cria um sistema de recrutamento e alistamento para guerra. Dias antes da assinatura do decreto que criaria o voluntário da pátria, em 02 de janeiro de 1865; Cândido da Fonseca Galvão, jovem negro de família abastada, provavelmente adquirida nas lavras dos diamantes; movido por sentimento nacionalista, alistou-se voluntariamente no exército, para lutar na guerra do Paraguai. Neste período, havia na prática, um recrutamento forçado das camadas mais humildes, mormente negros, índios e mestiços.

Neste contexto, Galvão se distingue. A Guerra do Paraguai constituiu-se em oportunidade para o jovem negro exercitar suas qualidades de liderança. E neste cenário, devido a sua grande bravura, foi condecorado como oficial honorário do Exército brasileiro.

O Rio de Janeiro com o prestígio político da Corte, e com a prosperidade adquirida com a lavoura cafeeira, configurava-se como região de melhores condições de trabalho e de vida. Estes atrativos fizeram com que Galvão, em meados de 1870, deixasse Salvador e se fixasse na capital do Império.

É no Rio de Janeiro que Galvão, o Dom Obá, torna-se uma figura folclórica, e para alguns, um tanto quanto caricata da sociedade carioca. Porém, independente das contradições em relação a este personagem, efetivamente era reverenciado como um príncipe real por vários afro-brasileiros, escravizados ou livres que viviam nos subúrbios da capital do Império. É também neste cenário, em fins do século XIX, que Dom Obá transforma-se em um dos pioneiros na luta pela igualdade racial no Brasil. Passa a escrever artigos nos jornais da corte, onde defendia a monarquia brasileira, o combate ao trabalho escravo, dentre outros assuntos relevantes para época. Participava fervorosamente dos debates intelectuais do período. Tinha admiração por D. Pedro II. Era um dos primeiros a chegar às suas audiências públicas. Falava diretamente com o imperador sobre suas inquietações, sonhos e perspectivas. Nestas oportunidades, procurava o apoio de D. Pedro II para seus projetos. Dom Obá atuou na campanha abolicionista e andava com farda de gala, cartola elegante, luvas brancas e chapéu de alferes, em um período em que poucos negros andavam calçados. E neste contexto, era considerado referência para os escravizados que buscavam liberdade ao mesmo tempo em que para outros, que consideravam seus hábitos extravagantes, por estes era considerado meio “amalucado”.
Tendo em vista sua admiração pelo imperador, com a queda do Império em 1889, os republicanos cassaram seu posto de alferes. Meses depois morreu, em julho de 1890.

 

Esperança Garcia

 

Escravizada que, no final do século XVIII, escreveu uma petição destinada ao governador do Piauí.

Esperança Garcia era escravizada confiscada aos padres jesuítas, que, com a expulsão destes pelo Marquês de Pombal, passaram-na à administração do governo do Piauí. Esperança Garcia foi levada à força da Fazenda Algodões, perto de Floriano, para uma fazenda em Nazaré do Piauí. Em 6 de setembro de 1770, a escravizada dirigiu uma petição ao Presidente da Província de São José do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, denunciando os maus-tratos físicos de que era vítima, ela e seu filho, por parte do feitor da Fazenda Algodões.
Dentre as diversas leituras concebíveis da referida petição, é possível constatar, em fins do século XVIII, a existência de mulher negra escravizada alfabetizada e ciente de sua possibilidade de reivindicar o direito a um tratamento mais humanizado. Cabe salientar, nesse período, que quem fosse flagrado ensinando escravizado a ler era preso e/ou processado.

A atitude de Esperança Garcia não era uma prática. A habilidade dela em perceber a viabilidade de conciliar seu letramento com recurso de reivindicação evidencia sua capacidade de análise de conjuntura e habilidade política ao expor, na petição, a necessidade de realizar alguns sacramentos relacionados à religião católica – hegemônica naquele momento histórico –, assim como a crença na possibilidade de ver sua solicitação considerada pelas autoridades.

Para além de elementos diretamente relacionados à vida de Esperança Garcia, a petição permite a possibilidade de algumas leituras sobre o contexto histórico, cultural e social de São José do Piauí, tais como algumas práticas diretamente relacionas aos escravizados, como a revelação dos sofrimentos a que estes estavam sujeitos e a separação de entes familiares quando da venda destes.

É importante lembrar que, tendo em vista a importância dada à petição de Esperança Garcia, por força da Lei nº 5.046, de 7 de janeiro de 1999, ficou instituído o dia 6 de setembro, data da petição, como sendo o “Dia Estadual da Consciência Negra” no Piauí.


CARTA:
Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal. A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar. Pello q. Peço a V.Sª. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia


Carta Versão léxico atualizado:
Eu sou uma escrava de V.Sª. administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões , onde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem, sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca; em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.Sª. pelo amor de Deus e do seu valimento, ponha aos olhos em mim, ordenando ao Procurador que mande para a fazenda onde ele me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha.
De V.Sª. sua escrava, Esperança Garcia

 

Mercedes Batista

 

Mercedes Ignácia da Silva Krieger (Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 1921 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014)1. Coreógrafa, bailarina, divulgadora da dança afro-brasileira e carnavalesca. Jovem, muda-se para a capital carioca. Em 1944, frequenta o Curso de Danças oferecido pelo Serviço Nacional de Teatro do Rio de Janeiro e ministrado por Eros Volúsia (1914-2004), de quem recebe as primeiras lições de balé clássico e dança folclórica. Nos anos 1940, ingressa na Escola de Balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e estuda com o estoniano Yuco Lindberg (1908-1948) e o tcheco Vaslav Veltchek (1897-1968). Em 1948, é admitida como bailarina profissional no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em fins da década de 1940, é selecionada pela coreógrafa e antropóloga estadunidense Katherine Dunham (1909-2006) para estudar na Dunham School of Dance, em Nova York. Em 1953, no Brasil, funda o Ballet Folclórico Mercedes Baptista. 

Em 1955, o grupo é convidado pelo coreógrafo russo Léonide Massine (1896-1979) para participar de Hino à Beleza, peça elaborada para o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A companhia também atua no teatro de revista com Agora a Coisa Vai (1956), Rumo a Brasília (1957) e Juju-Fru-Fru (1958), realizadas pela Companhia Silva Filho no Teatro João Caetano, com repercussão na época. 

O primeiro espetáculo exclusivo do grupo no Brasil é África, no Teatro de Arena da Guanabara, em 1962. A companhia faz turnês na Argentina (1955, 1958 e 1962) e no Uruguai (1955 e 1962). Em 1965, participa do Festival de Arte Folclórica na França e sai em turnê por seis meses, apresentando-se em 150 cidades europeias. Em 1966, a companhia faz turnê pelo Chile e, em 1969, segue para Portugal.

Em 1960, Mercedes Baptista atua como carnavalesca na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, com tema sobre Quilombo dos Palmares. Em 2008, recebe homenagem da Escola de Samba Cubango (grupo de acesso). Ministra cursos fora do Brasil e introduz a disciplina dança afro-brasileira na Escola de Dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2005, recebe homenagem com a exposição Mercedes Baptista – A Criação da Identidade Negra na Dança. Em 2007, como desdobramento da mostra, Paulo Melgaço da Silva Júnior lança a biografia da dançarina.

Análise

Mercedes Baptista é figura-chave no âmbito da dança, ao fomentar o processo de inserção étnica e cultural em curso no Brasil. Sua trajetória é realizada apesar dos poucos recursos e do tratamento diferenciado que é lhe dado no início da carreira. Nasce em uma família que vive do trabalho da mãe, a costureira Maria Ignácia da Silva, e exerce diversas atividades profissionais antes de se firmar na dança. No Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, é escalada poucas vezes para atuar nas apresentações.

Seu trabalho é construído com base em experiências vividas durante sua formação: as aulas com a coreógrafa Eros Volúsia; a atuação no Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado pelo político e ativista social Abdias do Nascimento (1914-2011), a participação no Conselho de Mulheres Negras e os estudos na Dunham School of Dance, em Nova York. Reunindo essas influências, Mercedes Baptista funda um grupo de dança dedicado à cultura afro-brasileira e transforma-se em ícone da reafirmação do artista negro da dança no Brasil. 

Este status é conquistado, inicialmente, por ser a primeira bailarina negra a atuar profissionalmente no Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Também contribuem para sua representatividade a criação de um grupo de dança formado exclusivamente por bailarinos negros e o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa com as matizes da dança afro-brasileira, inserindo a presença do artista negro no teatro, no cinema e na televisão. Além disso, a coreógrafa introduz a disciplina dança afro-brasileira na Escola de Dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Com isso, cria uma imagem da cultura negra brasileira dentro e fora do país e torna-se referência no assunto. Ela também inova os desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro, inserindo, em seu conjunto, alas coreografadas.

No cenário desigual e desfavorável para os negros no Brasil, Mercedes Baptista dribla as dificuldades e constrói uma história que deixa seu nome marcado com destaque na história da dança no país, assim como outros negros o fazem em diferentes campos de atuação social. Em 1963, ela quebra tabus quando realiza um espetáculo com seu grupo de bailarinos negros no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o templo sagrado da cena artística de seu tempo.

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